Orlando Brito (1950-2022)

por Paulo Marcos

foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O menino de 7 anos chegou à capital que estava sendo construída em 1957, a 3 anos da sua inauguração. Vindo da pequena e escaldante cidade mineira de Janaúba, Orlando Brito percorreu, entre excitado e apreensivo, os 700 Km até a futura Brasília com a certeza de que a sua vida mudaria radicalmente dali para frente. Na nova capital, sonho e projeto de um outro mineiro, Juscelino Kubitschek, o moleque viu uma cidade moderna e modernista, ode ao monumentalismo arquitetônico, tomar forma. Aos 14 anos, com olhos frescos e alma leve, o futuro fotógrafo entrou para o mundo da fotografia pela porta do laboratório fotográfico da sucursal do jornal carioca  Última Hora. Dois anos depois, era parte do time de fotógrafos. Começava ali a sua obra fotográfica monumental. Em quase 60 anos de profissão, Brito criou imagens que se tornaram marcas d'água das páginas impressas com a história do Brasil, principalmente nos capítulos dedicados ao poder. Como poucos, sempre com fala mansa e doce, empático por natureza, Brito registrou de forma moderna e pessoal, os bailados e as arrogâncias dos poderosos. Produziu ícones fotográficos, como a foto da  "dança das cadeiras" protagonizada pelo presidente general João Figueiredo, os generais Golbery e Newton Cruz e o então ministro da economia Delfim Neto; a foto de Ulisses Guimarães dois dias antes da sua morte trágica; tropas militares em frente ao Congresso Nacional durante a ditadura; um enfadonho Tancredo Neves no plenário da Câmara dos Deputados; o presidente João Figueiredo perfilado ao lado de militares em uma parada de sete de setembro e, mais recentemente, o presidente Bolsonaro de prontidão junto a militares, todos olhando para o nada.

Brito costumava comparar: "Naquela época (da ditadura) você podia fotografar tudo, mas não podia publicar nada (por causa da censura). Hoje você pode publicar tudo, mas não pode fotografar nada". Orlando Brito sempre driblou estas situações e produziu fotos de momentos e personagens históricos do centro do poder das últimas 5 e tantas décadas. Ao contrário do poder, efêmero e passageiro, a sua obra é para sempre.


PAULO MARCOS DE MENDONÇA LIMA

Comecei a mexer com fotografia em 1974 ao mesmo tempo que me dedicava ao teatro. Achei que iria ser ator, mas em 1977 fui fazer uma faculdade de fotografia nos EUA e desde 1978 fotografo profissionalmente. Trabalhei como fotógrafo contratado para as revistas Manchete e Veja-Rio e para o jornal O Dia.
Fui editor de fotografia do Dia, o Globo, LANCE!, TV Globo e Brasil Econômico. No LANCE! também fui editor de projetos especiais.

Fazer e ensinar fotografia são as tramas da corda que me ata à fotografia. Me interesso por ensinar o que já aprendi e aprender sobre e com os novos fotógrafos, o que se está produzindo em outros lugares, e os trabalhos realizados pelas infinitas possibilidades que as novas tecnologias trazem. Convergências de mídias, de suportes, de narrativas. Tudo junto, tudo pulsando.