Maria Eugênia Nabuco

Maria Eugênia tem um corpo. Como todos nós, tem um corpo com o qual convive ininterruptamente. Uma constatação tão óbvia quanto enigmática.

Um selfie, outro selfie, milhares de selfies. Preenchimento de rugas, de lábios, de braços de bundas, tratamentos estéticos, botox, botox, botox, harmonização facial. Gourmetizaram, gentrificaram e hackearem tudo, todas as partes do corpo. Um corpo transformado para acabar em uma imagem emplastada em alguma mídia social. Um corpo-imagem. Um corpo que cai. É o abismo narcísico.

Maria Eugênia tem um corpo que se movimenta, envelhece, trabalha, dorme, pulsa, pensa, que se funde com o seu ambiente e seus afetos, que abraça, que existe. É Isso, existe. Isso existe. Espontaneamente existe no seu tempo e espaço. Sou um corpo, logo existo. "O homem é a medida de todas as coisas", cravou Protágoras no século 5 a.C. "Todo homem é a medida do Universo", atualizou o poeta Teixeira de Pascoaes no século XIX.

Por 3 anos, de 2013 a 2016, Maria Eugênia examinou outros corpos por meio de uma estratégia simples e direta: fotografou pessoas da "vida cotidana", como ela os chama, em ambientes domésticos, quase sempre em sua própria casa, com uma luz natural e sem artifícios. A simplicidade da sua abordagem não tapou a complexidade que é fotografar um corpo nú. Com idades entre 27 e 82 anos, estes corpos reais posaram de forma natural e em ambientes neutros para que pudessem "se expressar por si mesmos". Corpos e fragmentos de corpos voltados para eles mesmos, num vazio que os isola no espaço, fazendo com que o erotismo, a sensualidade e a estetização, tão associados ao nú, sejam esvaziados e transformem estes corpos em pulsações de vida.