Câmeras Fotográficas e Algumas Histórias

Evandro Teixeira (Leica)

por Paulo Marcos de Mendonça Lima

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"Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil". O trecho do hino da independência do Brasil, composto por D. Pedro I em 1822, foi uma das palavras de ordem mais usadas nos protestos durante a ditadura militar (1964-1985). O tom estava dado: entregar a vida em nome da liberdade do Brasil. 

O assassinato do estudante Edson Luís pelas forças militares repressoras foi a fagulha que fez com que 1968 fosse, como definiu o jornalista e escritor Zuenir Ventura, "o ano que não acabou". Edson Luís estava no restaurante estudantil Calabouço no centro do Rio de Janeiro quando houve a invasão militar para dispersar os protestos contra o aumento das refeições. Ele não fazia parte das manifestações, estava ali pelo almoço barato. Tomou um tiro e morreu a caminho do hospital. Tinha 17 anos. 1968 ardeu até dezembro, quando o governo decretou o mais famigerado e violento ato institucional dos 21 anos do regime de exceção, o AI-5.  

Na missa de sétimo dia do estudante na Igreja da Candelária, no centro do Rio, centenas de pessoas compareceram para prestar homenagens e se despedir. Na hora de saírem pacificamente foram reprimidas e encurraladas pela cavalaria militar. 

Evandro Teixeira, fotógrafo lendário da lendária fotografia do jornal carioca Jornal do Brasil, tinha se posicionado, com sua câmera Leica e um par de lentes, em um prédio diagonal à igreja, onde tinha uma vista privilegiada da frente e de uma das laterais do prédio. O resultado foram fotos que mostram o descompasso entre as dezenas de soldados montados em seus cavalos indo na direção oposta a de onde estavam as pessoas amontoadas na frente da Candelária. Entre os dois grupos está a calçada de pedras portuguesas com desenhos que parecem dizer que a vida, como as ondas do mar, é um fluxo interminável de idas e vindas, por vezes desconexas. Evandro, poeticamente, viu. Melhor, anteviu. Como um cavalo selvagem, o seu olhar livre não se deixou aprisionar naquela manhã soturna e, mais uma vez, produziu uma imagem que galopa solta para dentro da história. O ano interminável de 1968 vive para sempre na fotografia de Evandro Teixeira. 

foto de André Arruda

foto de André Arruda


PAULO MARCOS DE MENDONÇA LIMA

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Comecei a mexer com fotografia em 1974 ao mesmo tempo que me dedicava ao teatro. Achei que iria ser ator, mas em 1977 fui fazer uma faculdade de fotografia nos EUA e desde 1978 fotografo profissionalmente. Trabalhei como fotógrafo contratado para as revistas Manchete e Veja-Rio e para o jornal O Dia.
Fui editor de fotografia do Dia, o Globo, LANCE!, TV Globo e Brasil Econômico. No LANCE! também fui editor de projetos especiais.

Fazer e ensinar fotografia são as tramas da corda que me ata à fotografia. Me interesso por ensinar o que já aprendi e aprender sobre e com os novos fotógrafos, o que se está produzindo em outros lugares, e os trabalhos realizados pelas infinitas possibilidades que as novas tecnologias trazem. Convergências de mídias, de suportes, de narrativas. Tudo junto, tudo pulsando.


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