José Medeiros, encantado.

por Paulo Marcos de Mendonça Lima

Nascido em Teresina, Piauí, José Medeiros se interessou pelo ofício da fotografia ainda na infância. Aos 12 anos aprendeu a revelar filmes com o pai num laboratório caseiro. Começava aí um encantamento que ele carregaria até o fim da vida em 1990 .

Em 1939 vai para o Rio com a família e em 1946 é contratado pela O Cruzeiro, revista lançada em 1928 por Assis Chateaubriand. Em pouco tempo se torna uma das estrelas de maior sucesso editorial do jornalismo brasileiro semanal de todos os tempos.

A partir de 1965 passa a se dedicar exclusivamente ao cinema, respondendo pela direção de fotografia de grandes filmes brasileiros, o primeiro sendo A Falecida, dirigido por Leon Hirszman e baseado na obra homônima do “Anjo Pornográfico” Nelson Rodrigues. Mais adiante vieram Xica da Silva e Memórias de um Cárcere, entre tantos outros filmes brasileiros marcantes. Em sua longa e profícua carreira também houve espaço para que empunhasse a batuta de diretor: em 1979 dirigiu o filme Parceiros da Aventura. Apesar de não mais fotografar quando o cinema entrou em sua vida, José Medeiros permaneceu curioso e intrigado com os muitos usos da fotografia, que se multiplicam conforme a tecnologia avança. Como quando em meados dos anos 1970 percorreu, em seus dias de folga durante a filmagem de um filme sobre Padre Cícero, minúsculas cidades do Cariri Cearense a procura de fotos de mortos feitas em chapas de vidro. Registros que eram encomendados por parentes para que pudessem guardar uma imagem daquele que não havia sido fotografado em vida e assim fazendo com que o ente querido permanecesse vivo dentro do mundo fabuloso da fotografia.

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Seu parceiro na empreitada arqueológica foi o também fotógrafo e diretor de fotografia Walter Carvalho, seu assistente à época e que conta: “Em Juazeiro do Norte, Ceará, o dono do modesto e empoeirado estúdio de “retratos”, o lambe-lambe da cidade, nos levou a um quartinho no quintal abarrotado destas fotos feitas em placas de vidro nos velórios muitas vezes caseiros. O Zé ficava encantado como a fotografia era mágica, como podia dar vida, ressuscitar. Mesmo afastado da fotografia, este encantamento ele nunca perdeu.”

Zé Medeiros era mágico e teria feito 100 anos no dia 18 de maio e 2021.


PAULO MARCOS DE MENDONÇA LIMA

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Comecei a mexer com fotografia em 1974 ao mesmo tempo que me dedicava ao teatro. Achei que iria ser ator, mas em 1977 fui fazer uma faculdade de fotografia nos EUA e desde 1978 fotografo profissionalmente. Trabalhei como fotógrafo contratado para as revistas Manchete e Veja-Rio e para o jornal O Dia.
Fui editor de fotografia do Dia, o Globo, LANCE!, TV Globo e Brasil Econômico. No LANCE! também fui editor de projetos especiais.

Fazer e ensinar fotografia são as tramas da corda que me ata à fotografia. Me interesso por ensinar o que já aprendi e aprender sobre e com os novos fotógrafos, o que se está produzindo em outros lugares, e os trabalhos realizados pelas infinitas possibilidades que as novas tecnologias trazem. Convergências de mídias, de suportes, de narrativas. Tudo junto, tudo pulsando.