O Infinito da Face em Ale Ruaro

Por Paulo Marcos de Mendonça Lima

Fotografar gente. Um rosto, um corpo, muitas camadas. Em 1958 o multi premiado diretor de cinema Ingmar Bergman lançava o que viria a se tornar uma das suas obras mais conhecidas. O Rosto conta a história de um grupo de atores que viajam pelo interior da Suécia encenando pequenas peças onde a mágica tem um papel central. Como era de se prever, os atores transformam os seus rostos conforme as características de seus personagens. É isso o que se espera deles: uma metamorfose diante de nós. O cineasta sueco nos mostra como um rosto pode ser muitos, transmutando-se por nuances sutis porém definidoras. Um pequeno gesto, um olhar raivoso, um sorriso falso, uma sobrancelha inquieta, tudo é trampolim para dentro da personagem e suas camadas.  

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Ale Ruaro extrai de seus personagens não as suas almas, mas faíscas de suas existências, vestígios de suas mágicas. Sim, todo ser humano é mágico. Não se contenta com a lógica monolítica da racionalidade, do caminho reto. Por entre truques, ilusões e sonho nos configuramos, pelo caminho fértil e misterioso da magia, imagem.  

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Ruaro mira em um rosto e tira dele uma das suas essências. Um rosto é horizonte e infinito. Quando vamos em direção ao horizonte, ele se desloca, nos escapa. Nunca o alcançamos pois não existe, infinito é. 

Em todo rosto está também quem olha. Quem olha é olhado, em uma troca de lugares incessante. Ale trás para dentro de sua caixa preta todos os que fotografa. Uma caixa mágica, que transforma a vida latente de um rosto em imagem, que pulsa, que não se esgota, que é de quem olha e que, imerso no seu horizonte humano, se vê infinito. 



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Paulo Marcos de Mendonça Lima é graduado em fotografia pelo Brooks Institute (EUA) e em jornalismo pela UniverCidade. Fotógrafo profissional desde 1980, foi editor de fotografia dos jornais O Globo, LANCE! e O dia, é professor em cursos livres e de pós-graduação e trabalha com fotografia autoral. Publicou os livros Kuarup Quarup, Saara Rio de Janeiro e Rio Imperial entre outros. Expôs na Galeria 32 em Londres e no Museu Ludwig na Alemanha. Desde 2014 é sócio do Ateliê Oriente. Em 2015 participou do FotoRio como leitor de portfolios e com a exposição Perimetranse, foi curador da exposição Delicadeza no Centro Cultural Light, no Rio de Janeiro e coordenou o Prêmio Carlos Lacerda de Fotografia. Em 2016 participou da curadoria do Paraty em Foco. Desde 2018 faz parte da Comissão Gestora do FotoRio, coordena as exposições do festival e é leitor de portfólios. É um dos idealizadores da Feira Oriente.

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