A fotografia visceral de Antoine d'Agata

Por Paulo Marcos de Mendonça Lima

A fotografia de Antoine d’agata nasce de uma necessidade aguda de entender os labirintos dos desejos mais profundos e soturnos da mente humana. Da mente e da carne. Uma carne que se joga, de corpo e alma, num desfiladeiro de sombras onde cada recanto é uma possibilidade de esticar ainda mais o êxtase. A procura sem fim do prazer simbiótico entre pele e alma, entre sexo e dor, entre o que se vê e o que se toca. Transcendental.

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Imagens feitas com o intestino, com o fígado e com as vísceras. Visceral.

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D’agata nasceu em 1961 em uma cidade portuária ao sul da França. Acostumada com o grande fluxo de imigrantes, Marselha, segunda maior cidade francesa, ajudou a forjar a personalidade e a visão do fotógrafo. O fluxo incessante de seres humanos à procura de uma nova pátria fez o fotógrafo pulsar em constante movimento. D’ágata não para. A vida é fluxo. De suor, de sêmen, de sangue, da agulha na veia.

Em 1983, aos 22 anos, se mandou para Nova York, capital mundial da beleza e do caos, onde encontrou dois professores e tutores que estavam na estrada das feridas abertas há tempos: Nan Goldin (1953) e Larry Clark (1943). Sobreviveu. Diria mais tarde que teria sido “cobaia dos dois”.

“No ICP, eu não falava sobre fotografia com Nan Goldin. Falávamos sobre o que era correto, o que era justo, era uma preocupação com as pessoas.”

De 1991 a 1992 trabalhou como estagiário no escritório da lendária agência Magnum em Nova York. Apesar do conhecimento e experiência acumulados nos EUA, coloca a fotografia em pausa por quatro anos quando volta para a França em 1993.

Desde 2005 não tem residência fixa, trabalhando no mundo todo. Em fluxo, em pulsação, sangrando e olhando, olhando, olhando sem piscar.


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Paulo Marcos de Mendonça Lima é graduado em fotografia pelo Brooks Institute (EUA) e em jornalismo pela UniverCidade. Fotógrafo profissional desde 1980, foi editor de fotografia dos jornais O Globo, LANCE! e O dia, é professor em cursos livres e de pós-graduação e trabalha com fotografia autoral. Publicou os livros Kuarup Quarup, Saara Rio de Janeiro e Rio Imperial entre outros. Expôs na Galeria 32 em Londres e no Museu Ludwig na Alemanha. Desde 2014 é sócio do Ateliê Oriente. Em 2015 participou do FotoRio como leitor de portfolios e com a exposição Perimetranse, foi curador da exposição Delicadeza no Centro Cultural Light, no Rio de Janeiro e coordenou o Prêmio Carlos Lacerda de Fotografia. Em 2016 participou da curadoria do Paraty em Foco. Em 2018 fez parte da Comissão Gestora do FotoRio Resiste e coordenou a Feira Oriente. Em 2019 é o coordenador de exposições do FotoRio e leitor de porfólios

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