Tempo Presente

por Kitty Paranaguá

“Em meu princípio está meu fim. Umas após outras                                     

As casas se levantam e tombam, desmoronam, são ampliadas,

Removidas, destruídas, restauradas, ou em seu lugar

Irrompe um campo aberto, uma usina ou um atalho.

Velhas pedras para novas construções, velhas madeiras  para novas chamas,

Velhas chamas em cinzas convertidas, e cinzas sobre a terra semeadas,

Terra agora feita carne, pele e fezes,

Ossos de homens e bestas, trigais e folhas.” (Quatro Quartetos. T.S.Elliot. East Coker)

O embate da natureza com a arquitetura, e do mar se apoderando das cidades, é uma realidade em muitos lugares. O lugar escolhido para fotografá-lo é a cidade de Atafona, distrito do município de São João da Barra, Região Norte Fluminense no delta do Paraíba do Sul. Atafona é uma cidade de pescadores e um centro de construção de barcos. Outrora cidade de veraneio, teve seus momentos de fama com um cassino, uma rua na orla chamada Avenida Atlântica e um grande fluxo de turistas.  Porém, há mais de 40 anos sofre com a fúria do mar, que em ritmo acelerado, vem destruindo suas construções. Apesar do drama da perda, a aura mágica e a poética que permeia o embate da natureza com o homem atraem muitos turistas _ visitantes que querem viver a experiência da cidade que vai desaparecendo.

Estas  imagens  falam  de histórias e vidas. Assim como a realidade que vai engolindo a cidade, deixando soterrado muitas vivências e histórias, estas  fotos são feitas por camadas, em um diálogo constante do mar com a arquitetura. 

O diálogo foi proposto, o obturador aberto e fechado em dois momentos distintos: olhando a  cidade e em seguida o mar.  Este foi o meu controle, o tempo escolhido de cada  cena, o resto o mar fez sua parte. Não é um ensaio onde o acaso constrói, mas onde deixei a vida seguir o seu rumo e congelei este momento. 


Kitty Paranaguá

Kitty Paranaguá

Nascida no Rio de Janeiro. Formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pós-graduada no curso Fotografia: imagem, memória e comunicação pela Universidade Cândido Mendes – Rio de Janeiro.

Participou de várias exposições coletivas e individuais, Pequenas Infâmias, no Centro Cultural da Justiça Federal, no contexto do FotoRio, Rio de Janeiro, e Copacabana, na Galeria Zoom – em Paraty. Seu trabalho Caminhos Cruzados - Memórias fabulares da Estrada do Comércio, foi selecionado no Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio – IPHAN (2013), conjuntamente com os demais integrantes do Ateliê Oriente.

Com o livro Copacabana (2011), editora Barléu, ganhou a menção honrosa no Festival do Poy Latino Americano (Pictures of the year), 2013, entre outras participações em livros comoFotografia no Brasil - um olhar das origens ao Contemporâneo, de Angela Magalhães e NadJa Peregrino, Instantâneo da Fotografia, com promoção de mesa redonda com Jean-Luc Monterosso, Milton Guran, Lygia Segalla e Maurício Lissowsky (CCBB/RJ - FotoRio 2007). Em 2017, foi a representante do FotoRio em Beging Photo Fair (Pequin – China) com o ensaio Campos de Altitude.

Sócia do Ateliê Oriente.

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