Korda, fotógrafo revolucionário

Entre muitos trabalhos incríveis encontrados na exposição Levantes, com curadoria de Georges Didi-Huberman (ocorrida no Sesc Pinheiros SP, de 18 de outubro de 2017 a 28 de janeiro de 2018), a qual tive o prazer de visitar, havia o desenho de Goya "No haras nada con clamar”;  a foto  “Crianças desaparecidas” de Eduardo Gil, feita em  Buenos Aires, em 1982; a de Ken Hamblin, “Rua Beaubien” e uma que me tocou em especial. Foto que já conhecia, mas que na exposição parecia um farol: “Dom Quixote do lampadário”, Praça da Revolução, Havana, Cuba, de Alberto Korda, feita em 1959.

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Korda tem uma história emocionante. Inicialmente fotógrafo de publicidade, um dia, fotografando um carro, viu a cena de uma menina fazendo uma roupa de papel para sua boneca. Ao chegar perto, percebeu que a boneca era apenas um pedaço de madeira e, sensibilizado, resolveu se unir ao ideal revolucionário que prometia acabar com aquele tipo de injustiça social. Assim, tornou-se o fotógrafo de Fidel Castro na revolução cubana.

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Alberto Korda é o autor da foto mais reproduzida no mundo: o retrato de Guevara, aos 31 anos, tirada quando participava de um memorial às vítimas da explosão de um navio afundado em Havana. A cena ocorreu no dia 5 de maio de 1960. Foram apenas dois cliques para o fotógrafo perceber que tinha uma bela foto.

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Jamais imaginou que se tornaria autor do mais forte ícone do movimento de esquerda de todo o mundo. Seu trabalho vai muito além desta foto. Ele teve o privilégio de conviver com Fidel e os homens que fizeram a revolução de Cuba, deixando como um grande legado à história fotográfica estes momentos.

Em uma entrevista para alunos de uma universidade americana, ao ser questionado sobre que câmera e lentes utilizar para fotografar, respondeu que isto se aprende em algumas aulas, mas que “o essencial é invisível aos olhos”(Antoine de Saint-Exupéry), só se vê com o coração. Isto é ser fotógrafo!

Escrito por Kitty Paranguá