Uma semana agitada nos Encontros de Arles 2018

Wolf (Lobo), 1994, William Wegman

É no sul da França, em Arles, que acontece anualmente um dos maiores festivais de fotografia da Europa: os Encontros de Arles. Iniciado em 1969, pelo fotógrafo da região Lucien Clergue, o escritor Michel Tournier e o historiador Maurice Rouquette, em sua 49o edição, o festival conta com 36 exposições oficiais, além de toda uma programação off e uma primeira semana com mais de 10 eventos por dia. Um presente para qualquer fotógrafo ou amante da mídia. São exposições de artistas do mundo todo em locais surpreendentes como igrejas, supermercados, casas antigas (incluindo cozinha e banheiro), antigas estações desativadas, anfiteatro romano... 

Numa mistura de clima quente, arquitetura romana, cultura francesa e espanhola, mais de 18 mil pessoas do mundo todo serpentearam as ruelas da antiga cidade murada em sua semana de abertura. Essa primeira semana, que abre o festival, é quando tudo acontece e todos se encontram. Os fotógrafos estão acessíveis em seus vernissages, assinaturas de livros e projeções, diretores de museus e patrocinadores passeiam entre turistas desavisados, locais mal-humorados e nós, fotógrafos deslumbrados. É uma ótima semana para trocar cartão e aumentar o networking, mas também é o momento de respirar fotografia por todo lado: conversar, trocar ideias, descobrir novidades, questionar e abrir a cabeça para o que acontece por aí.

Tudo bem que na correria da multidão e das mil e uma informações apresentadas muitos encontros são superficiais e rápidos, na ânsia de passar para o próximo evento. Um festival desse porte deixa claro, em sua montagem e escolha de artistas, as pressões que deve sofrer política e economicamente. Faz parte do jogo. Contudo, após a semana agitada, com a cabeça mais fresca, ficam as boas novidades observadas e os poucos bons encontros que ultrapassaram os cartões para irem direto para o whatsapp.
 

Paul Fusco, trem do funeral, EUA, 1968

Annie Ingram, para série O ponto de vista do público - o trem do funeral de Robert Kennedy, Rein Jelle Terpstra, 2014-2018.

Nesse ano o país homenageado foi os EUA com várias exposições ligadas ao tema, como por exemplo, William Wegman e seus cachorros da raça Weimaraner, Robert Frank e sua série icônica “The Americans” ou a última viagem de trem do corpo de Robert Kennedy com uma integração interessante entre as imagens do fotojornalista Paul Fusco, do holandês Rein Jelle Terpstra e um filme do francês Philippe Parreno. Havia um espaço oficial na casa dos pintores com fotógrafos turcos, e uma casa inteira, na parte off, dedicada aos fotógrafos alemães. A Fundação Luma apresentou parte da coleção de retratos do francês Antoine de Galbert. Muitas exposições sobre a questão dos refugiados e uma grande parte dedicado às revoluções de maio 68.

Os brasileiros marcaram presença, com uma exposição de Felipe Fittipaldi pela Lens Culture, uma bela exposição de Bruno Morais e Cristina de Middel, “À meia noite na encruzilhada”, sobre a espiritualidade africana, na Croisière, e a projeção “Olhar Devagar” na FotoHaus, com participação de Zé Barreta, Isabella Lanave, Fabio Messias, entre outros. 

Ano que vem é 50o edição deste enorme e importante festival. Já lanço a chamada para uma casa brasileira com certeza! 

Cristina de Middel e Bruno Morais, À meia noite na encruzilhada, Brasil, 2016

Exposição de Cristina de Middel e Bruno Morais, La croisière, arles, à meia noite na encruzilhada


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Ioana Mello é carioca, mora em Paris e desde sua formação dedicou-se a imagem e suas diferentes relações em nossa sociedade. É sobretudo uma apaixonada por fotografia trabalhando a mídia em festivais, galerias, salas de aula ou escrevendo em seu site photolimits.com

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