Os legados do Paris Photo 2018 e as exposições fotográficas de 2019.

Por Iona Mello

foto mickalene thomas – moent’s pleasure in black and White, 2006

foto mickalene thomas – moent’s pleasure in black and White, 2006

Mês passado aconteceu em Paris a maior feira internacional dedicada à fotografia: o Paris Photo. Muito já foi falado sobre a feira, que esse ano teve algumas novidades. Em primeiro, a discussão sobre o espaço da mulher no mercado e na história da fotografia. A organização da feira escolheu a fotógrafa negra Mickalene Thomas para ilustrar sua identidade visual. Norte americana, do Brooklyn, Mickalene trabalha sobre a visibilidade do corpo feminino na fotografia. Além disso, com a ajuda da curadora Fanny Escoulen, um percurso pelos stands foi pensado através de imagens de fotógrafas mulheres, o Elles x Paris Photo. A ideia da curadora foi traçar o fio de uma história feminina da fotografia. Finalmente, o primeiro dia da feira foi dedicado a palestras, entrevistas, e manifestações sobre e com mulheres.

foto: Grete Stern - Quien-será?

foto: Grete Stern - Quien-será?

 Outra novidade, para colorir um pouco mais uma feira que sempre peca pela massificação e pouca ousadia, foi a nova ala temática Curiosa. 14 galerias foram convidadas para apresentar um ensaio de fotografia erótica. Mais uma tentativa de inspirar e desafiar, tentando tirar o evento da mesmice do mercado. Os livros de fotografia também foram muito comentados, com uma discussão que focou sobretudo no aumento desenfreado das publicações. Por um lado é interessante, pois temos um maior contato com trabalhos de todo o mundo. Mas por outro lado, existem publicações feitas sem pesquisa de mercado, sem finalidade, apenas pela vaidade de seus autores. Qual seria esse limite? A pergunta é interessante e atual. Ressoa com as inúmeras feiras de livros de arte que aumentam no país.

foto: Martine franck – Piscine, 1976

foto: Martine franck – Piscine, 1976

Mas o bom de Paris é que, mesmo depois de acabar o Paris Photo, não existe vazio. As exposições de fotografia por aqui continuam a pleno vapor, além dos diálogos em torno da imagem. Gostaria de destacar três exposições de mulheres fotógrafas que ainda estão em cartaz. A primeira é a exposição Do outro lado sobre 3 fotógrafas alemãs que se exilaram na América Latina nos anos 30. A segunda é sobre a conhecida Dorothea Lange, fotógrafa americana que ressaltava o emocional em suas imagens documentais. E finalmente, o novo espaço da Fundação Henri Cartier Bresson que abriu com o trabalho pouco difundido da grande fotógrafa Martine Franck. Por se casar com Henri Cartier Bresson muito jovem, Martine foi um tanto deixada de lado, na sombra de seu conhecido marido fotógrafo. A exposição trás a tona uma obra delicada e forte.

Entre idas e vindas do mercado, aos poucos vamos juntos escrevendo a nossa história da fotografia.

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Ioana Mello é carioca, mora em Paris e desde sua formação dedicou-se a imagem e suas diferentes relações em nossa sociedade. É sobretudo uma apaixonada por fotografia trabalhando a mídia em festivais, galerias, salas de aula ou escrevendo em seu site photolimits.com

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