O que pode a fotografia?

Por Luiz Baltar

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Fotos: Mauro Pimentel

Fotos: Mauro Pimentel

A fotografia e seus usos podem muito, até mudar o mundo. Essa afirmação é compartilhada por vários jovens fotógrafos, ou não tão jovens. Mas se não for possível transformar o mundo contra a desigualdade social, entre tantas outras opressões, apenas produzindo imagens, com toda certeza fotógrafas e fotógrafos estarão na linha de frente registrando as lutas sociais e as mudanças que elas pretendem na sociedade.

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Fotos: Lucas Landau

Fotos: Lucas Landau

As jornadas de junho, resgataram a utopia e levaram para as ruas milhões de pessoas por todo o Brasil. O que aparentemente começou como protesto contra o aumento das tarifas de ônibus, era na verdade luta pelo direito à cidade, por novas formas de organização e representação política. As palavras de ordem dos manifestantes denunciavam a estrutura de um Estado elitista, racista e machista, a violência policial e a manipulação da mídia hegemônica. 

O medo dos governos, dos políticos e das instituições ameaçadas, autorizou uma brutal e covarde repressão policial aos manifestantes nas ruas. Ao mesmo tempo as grandes empresas de comunicação, produziram em conjunto uma narrativa que justificava a violência policial criando o fenômeno do “vandalismo”, transformando manifestantes que reagiam contra violência policial em criminosos.

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Fotos: Ana Carolina Fernandes

Fotos: Ana Carolina Fernandes

Nesse cenário de disputas entre o que era vivenciado nas ruas e o que era noticiado nos jornais e TV, fizeram as postagens em redes sociais de dezenas de fotógrafos e coletivos de mídia independente ganharem importância vital. Segundo João Roberto Ripper “A fotografia tem uma coisa muito clara. Se as pessoas não viram, não existe e, portanto, se não é mostrado, não é conhecido, não faz parte do conteúdo de informações que faz o senso crítico coletivo (...) Uma coisa muito emblemática e perigosa na comunicação é quando você acaba fazendo sobre pessoas, sobre espaços, sobre comunidades, até sobre países, uma história única.”

Para marcar a importância histórica das manifestações de rua iniciadas em junho de 2013 e celebrar uma  documentação fotográfica tão variada, o editor da Reuters e curador Sérgio Moraes selecionou para exposição Manifestações a visão de cinco fotógrafos que acompanharam os protestos das mais variadas maneiras.

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Fotos: Barbara Dias

Fotos: Barbara Dias

A mostra reune na Escola de Cinema Darcy Ribeiro as fotografias de Ana Carolina Fernandes, fotojornalista com passagem pelos maiores jornais do país; Luiz Baltar, formado em fotografia pela Escola de Fotógrafos Populares e integrante do coletivo Favela em Foco; Bárbara Dias do Coletivo Fotoguerrilha; Mauro Pimentel da Agência France Press com várias coberturas internacionais; e Lucas Landau colaborador da Agência Reuters com coberturas importantes pelo país e no exterior. Estão expostas imagens feitas durante os grandes movimentos contra o preço das passagens de ônibus, a Copa, a corrupção, o impeachment e a violência retratados em 50 fotos, impressas em formato “lambe-lambe”.

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Fotos: Luiz Baltar

Fotos: Luiz Baltar

Escolher que memória queremos guardar das manifestações que encheram as ruas de rebeldia e sonhos, além de preservar uma história comum, é também decidir que identidade queremos construir e como projetá-la para o futuro. Para um dos principais pensadores da fotografia atual, Joan Fontcuberta, ”tanto a nossa noção do real quanto a essência de nossa identidade individual dependem da memória. Não somos nada além de memória. A fotografia, portanto, é uma atividade fundamental para nos definir, que abre uma dupla via de acesso para autoafirmação e para o conhecimento." É com essa perspectiva que podemos afirmar que é possível disputar a memória do mundo e quem sabe mudá-lo.

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Exposição fotográfica Manifestações na Escola de Cinema Darcy Ribeiro

 SERVIÇO

Visitação: 31/08 a 30/09, segunda a sexta-feira, de 11h às 20h

> Entrada franca <

ESCOLA DE CINEMA DARCY RIBEIRO (Rua da Alfândega, 5 / Térreo – Centro)


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Luiz Baltar trabalha como fotógrafo documentarista e desenvolve projetos autorais no campo da arte contemporânea. Acredita na fotografia como forma de expressão ativista e crítica, daí sua busca em estabelecer um diálogo entre fotografia e questões sociais, sobretudo no que diz respeito ao olhar sobre a cidade.

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