Richard Billigham e seu álbum de família visceral

por Paulo Marcos

A família é um tema recorrente na história fotografia e um dos seus assuntos mais clássicos. Quando se olha para os entes mais próximos olhamos para nós mesmos. Num jogo de querer ver e de não querer ver, tentamos enxergar naquelas pessoas o que não temos ou o que temos em excesso. De perto, de muito perto, ensinou Nelson Rodrigues, ninguém é normal. Nem nós. Talvez principalmente nós.

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Família disfuncional, pirada, religiosa, mineira, brasileira, nova, tradicional, quatrocentona, não convencional, alegre, triste. Tem de todo o tipo, mas todas têm em comum a capacidade de produzir um sentimento de pertecimento. Sou parte deste núcleo, vim dele e com ele sigo.

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Muitas famílias ainda mantém o hábito de ter álbuns com fotos de acontecimentos marcantes de suas vidas: nascimentos, primeira comunhão, batizados, natais, viagens, visitas de parentes. O universo imagético é preferencialmente em torno de assuntos que corroboram a importância da vida daquele grupo de pessoas. Um desejo de eternizar pela fotografia o que um dia não será mais matéria, apenas imagem.

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O fotógrafo inglês Richard Billinggam fez da sua família trash e à deriva o seu assunto primordial entre os anos de 1990 e 1996. O resultado é um mergulho profundo em si mesmo e no universo do qual conseguiu escapar. Billingham se opõe a todas as interpretações políticas e sociais que os críticos fizeram do seu trabalho, insistindo que sua intenção era estudar a figura humana no espaço interno, e que as fotografias eram apenas material de referência para pinturas. As pinturas nunca chegaram a serem feitas , mas as fotos viraram um livro: “Ray’s a Laugh” - Ray é Uma Piada ou Ray é Só Sorriso, em tradução livre e de duplo sentido


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Paulo Marcos de Mendonça Lima é graduado em fotografia pelo Brooks Institute (EUA) e em jornalismo pela UniverCidade. Fotógrafo profissional desde 1980, foi editor de fotografia dos jornais O Globo, LANCE! e O dia, é professor em cursos livres e de pós-graduação e trabalha com fotografia autoral. Publicou os livros Kuarup Quarup, Saara Rio de Janeiro e Rio Imperial entre outros. Expôs a Galeria 32 em Londres e no Museu Ludwig na Alemanha. Desde 2014 é sócio do Ateliê Oriente, um espaço carioca dedicado ao ensino, à reflexão e à difusão da fotografia. Em 2015 participou do FotoRio como leitor de portfolios e com a exposição Perimetranse. Neste mesmo ano foi curador da exposição Delicadeza no Centro Cultural Light, no Rio de Janeiro e coordenou o Prêmio Carlos Lacerda de Fotografia. Em 2016 dividiu a curadoria do Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco com Giancarlo Mecarelli. Em 2018 faz parte da Comissão Gestora do FotoRio Resiste

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