Paris: sua imagem e sua relação com a fotografia
Por Ioana Mello
Paris habita o imaginário coletivo mundial. A cidade da luz, romântica, histórica: uma imagem de glamour e riqueza. Quando digo que estou morando em Paris, tenho a nítida sensação que as pessoas me visualizam bebendo champanhe no café da manhã. Infelizmente essa não é a minha realidade cotidiana! Mas Paris construiu muito bem sua imagem pelo mundo, estando entre as 5 cidades mais fotografadas, segundo o instagram, e sendo a Torre Eiffel o monumento turístico mais clicado da Europa.
Mas não é apenas de mídia espontânea no instagram que vive a cidade. Morando em Paris pude perceber a intrínseca relação que essa cidade tem com sua imagem e também com a fotografia em geral. Uma relação de longa data, que tendo sido bem entretida, como qualquer relação na vida, cresceu e rende frutos para os amantes da fotografia que passam pela capital.
Já de cara, a história da fotografia se inicia com 3 grandes nomes franceses: Hercule Florence, Joseph Nicéphore Niépce e Louis Jacques Mandé Daguerre. Esse último foi quem inventou em 1838 o daguerreótipo, primeiro processo fotográfico com uma etapa de revelação da imagem e fixação feita por imersão em água salina. Ele também foi o primeiro a patentear a fotografia, na Academia de Ciência e Belas artes de Paris.
A partir de então a tecnologia fotográfica evolui e a profissão de fotógrafo só cresce na capital francesa. Cartões de visitas, retratos de família, experiências científicas, descobertas e excursões antropológicas, por alto, esses são alguns campos que a fotografia se estabelece. No início do século XX, a vanguarda parisiense é responsável por inúmeras movimentos artísticos que englobam a fotografia, como o surrealismo com fotógrafos como Man Ray e Dora Maar. A fotografia moderna vai se incorporando aos ideias artísticos em voga, vai ganhando mais força e descobrindo seus próprios recursos de linguagem.
As grandes guerras mudam o centro da fotografia: de Paris para Nova Iorque. Agora vamos fazer um grande corte histórico e pular para os dias de hoje. Atualmente, na Europa, Paris ainda é a capital da fotografia. Com mais galerias que Londres, Paris abriga mais de 50 exposições de fotografia por mês. Tem grandes instituições culturais fotográficas como a MEP – Maison Européenne de la Photographie – o Jeu de Paume, o Centre Pompidou, o Bal, a fundação Cartier-Bresson, só para citar alguns poucos.
A própria cidade de Paris já se deu conta, faz tempo, da importância histórica da fotografia e conta com um acervo de mais de 17 milhões de fotografias, entre daguerreótipos, negativos, tiragens em papel… Fotógrafos como Atget, Cartier-Bresson, Marville, Brassaï podem ser encontrados nos museus e na Biblioteca Nacional da cidade. O incrível ARCP – ateliê de restauro e conservação de fotografias – é responsável pelo cuidado de toda esta coleção. E que coleção! Oh lá lá!
É em Paris, também, que podemos ver anualmente, no mês de novembro, a maior feira de fotografia do mundo, a Paris Photo, que ano passado abrigou em torno de 150 galerias de fotografia de várias nacionalidades. Apesar do tamanho do evento, que pode oprimir, é um momento importante para a fotografia se posicionar no mercado, além de uma ótima oportunidade para descobrir olhares diferentes de outras culturas, novos nomes de outros países…
Só posso terminar com um brinde (de champanhe) a tanta inspiração fotográfica!
Merci, Paris.
Ioana Mello é carioca, mora em Paris e desde sua formação dedicou-se a imagem e suas diferentes relações em nossa sociedade. É sobretudo uma apaixonada por fotografia trabalhando a mídia em festivais, galerias, salas de aula ou escrevendo em seu site photolimits.com