Paris: sua imagem e sua relação com a fotografia

Por Ioana Mello

Robert Doisneau, Les jardins du Champs de Mars, 1944

Robert Doisneau, Les jardins du Champs de Mars, 1944

Paris habita o imaginário coletivo mundial. A cidade da luz, romântica, histórica: uma imagem de glamour e riqueza. Quando digo que estou morando em Paris, tenho a nítida sensação que as pessoas me visualizam bebendo champanhe no café da manhã. Infelizmente essa não é a minha realidade cotidiana! Mas Paris construiu muito bem sua imagem pelo mundo, estando entre as 5 cidades mais fotografadas, segundo o instagram, e sendo a Torre Eiffel o monumento turístico mais clicado da Europa.

Mas não é apenas de mídia espontânea no instagram que vive a cidade. Morando em Paris pude perceber a intrínseca relação que essa cidade tem com sua imagem e também com a fotografia em geral. Uma relação de longa data, que tendo sido bem entretida, como qualquer relação na vida, cresceu e rende frutos para os amantes da fotografia que passam pela capital.

Já de cara, a história da fotografia se inicia com 3 grandes nomes franceses: Hercule Florence, Joseph Nicéphore Niépce e Louis Jacques Mandé Daguerre. Esse último foi quem inventou em 1838 o daguerreótipo, primeiro processo fotográfico com uma etapa de revelação da imagem e fixação feita por imersão em água salina. Ele também foi o primeiro a patentear a fotografia, na Academia de Ciência e Belas artes de Paris.

Daguerreótipo, Boulevard du Temple, Paris, 1838, primeira fotografia de um ser humano

Daguerreótipo, Boulevard du Temple, Paris, 1838, primeira fotografia de um ser humano

A partir de então a tecnologia fotográfica evolui e a profissão de fotógrafo só cresce na capital francesa. Cartões de visitas, retratos de família, experiências científicas, descobertas e excursões antropológicas, por alto, esses são alguns campos que a fotografia se estabelece. No início do século XX, a vanguarda parisiense é responsável por inúmeras movimentos artísticos que englobam a fotografia, como o surrealismo com fotógrafos como Man Ray e Dora Maar. A fotografia moderna vai se incorporando aos ideias artísticos em voga, vai ganhando mais força e descobrindo seus próprios recursos de linguagem.

As grandes guerras mudam o centro da fotografia: de Paris para Nova Iorque. Agora vamos fazer um grande corte histórico e pular para os dias de hoje. Atualmente, na Europa, Paris ainda é a capital da fotografia. Com mais galerias que Londres, Paris abriga mais de 50 exposições de fotografia por mês. Tem grandes instituições culturais fotográficas como a MEP – Maison Européenne de la Photographie – o Jeu de Paume, o Centre Pompidou, o Bal, a fundação Cartier-Bresson, só para citar alguns poucos.

Kertész, André, Paris, 1929

Kertész, André, Paris, 1929

A própria cidade de Paris já se deu conta, faz tempo, da importância histórica da fotografia e conta com um acervo de mais de 17 milhões de fotografias, entre daguerreótipos, negativos, tiragens em papel… Fotógrafos como Atget, Cartier-Bresson, Marville, Brassaï podem ser encontrados nos museus e na Biblioteca Nacional da cidade. O incrível ARCP – ateliê de restauro e conservação de fotografias – é responsável pelo cuidado de toda esta coleção. E que coleção! Oh lá lá!

É em Paris, também, que podemos ver anualmente, no mês de novembro, a maior feira de fotografia do mundo, a Paris Photo, que ano passado abrigou em torno de 150 galerias de fotografia de várias nacionalidades. Apesar do tamanho do evento, que pode oprimir, é um momento importante para a fotografia se posicionar no mercado, além de uma ótima oportunidade para descobrir olhares diferentes de outras culturas, novos nomes de outros países…

Eugène Atget, 18E, 1921

Eugène Atget, 18E, 1921

Só posso terminar com um brinde (de champanhe) a tanta inspiração fotográfica!

Merci, Paris.

 


ioana.jpg

Ioana Mello é carioca, mora em Paris e desde sua formação dedicou-se a imagem e suas diferentes relações em nossa sociedade. É sobretudo uma apaixonada por fotografia trabalhando a mídia em festivais, galerias, salas de aula ou escrevendo em seu site photolimits.com

Leia outras colunas de Ioana Mello

 

 

Ateliê OrienteComentário